Cup of Brazil

Flamengo Campeão da Copa do Brasil 2006

Único time carioca campeão da Copa do Brasil até então, o Flamengo, que já havia chegado à decisão da competição duas vezes nos últimos três anos, contra o Cruzeiro em 2003, e contra o Santo André em 2004, voltou a grande final em 2006, tentando se redimir das últimas decepções. Nada melhor do que enfrentar o Vasco da Gama, grande rival, e freguês na história recente de confrontos entre as equipes em finais, para conquistar esse importante título.

O Rubro-Negro chegou à final após passar pelo Ipatinga-MG, nas semi-finais. E foi do time mineiro que veio o treinador que levou o Flamengo ao título. Após demitir Waldemar Lemos, o departamento de futebol contratou Ney Franco para comandar a equipe. Já o Vasco, em uma semi-final carioca, derrotou o Fluminense, formando assim, a primeira final de Copa do Brasil entre dois times do mesmo estado na história.

A primeira partida da decisão foi realizada no Maracanã, no dia 19 de julho de 2006. O ataque do time da Gávea funcionou, a equipe de Ney Franco deu um nó tático nos cruzmaltinos, comandados por Renato Gaúcho, e com uma vitória por 2×0, o Flamengo pôs a mão na taça.

1° Jogo

Em um Maracanã lotado, com a torcida, em sua maioria rubro-negra, dando show nas arquibancadas, Flamengo e Vasco entraram em campo buscando mais um título nacional. Título que seria inédito para os cruzmaltinos. Para os flamenguistas, seria a segunda conquista do Brasil, repetindo o feito de 1990, quando o Fla de Júnior derrotou o Goiás na final.

Desde o início do jogo, o esquema armado pelo técnico Ney Franco, que escalou o time em um 3-6-1, mostrou-se fundamental, e deu ao Flamengo superioridade durante praticamente toda a partida. O jovem Renato Augusto teve boa chance aos quatro minutos de jogo, em boa jogada individual. No contra-ataque, foi a vez de Edílson tentar abrir o placar, para o o time de São Januário.

Aos 30′, o Fla ameaçou de novo, em cabeçada de Fernando, após cobrança de escanteio de Renato Augusto. Três minutos depois, é a vez de Juan, após tabelar com o mesmo Renato Augusto, quase marcar. O Vasco respondeu em cobrança de falta de Ramón, aos 36. Mas, o placar não saiu do 0x0 no primeiro tempo da partida.

Já na segunda etapa, o Fla voltou com ainda mais gás. Logo aos 12′, Renato Augusto cruzou, a defesa do Vasco se atrapalhou, e Obina quase marcou. E foi ele mesmo, Obina, que havia acabado de entrar para decidir o jogo. Em escanteio muito bem cobrado por Renato Augusto, a bola quicou na área, e sobrou limpa para um lindo chute de primeira do atacante baiano. Flamengo 1×0 Vasco, e explosão dos rubro-negros na arquibancada.

A alegria ficou ainda maior dois minutos depois. Léo Moura recebeu sozinho na direita, avançou, e fez cruzamento na medida para o centroavante Luizão, de cabeça, marcar o segundo, e deixar o Flamengo muito perto da taça. O time de Renato Gaúcho tentou reagir. Aos 18, Abedi quase marcou. Aos 24, foi a vez de Andrade, que cobrou falta no travessão. Aos 31, Morais também tentou. E um último suspiro vascaíno veio aos 42, em outra cobrança de falta de Andrade, mas, a bola foi longe do gol.

O placar ficou no 2×0, e a torcida, que fez festa com o Maior Bandeirão do Mundo, patrocinado pela Nova Schin, e que uniu a Raça Rubro-Negra e a Torcida Jovem do Flamengo, e também com bandeiras em homenagem ao time campeão mundial de 1981, já começava a entoar o canto de “vice de novo”, provocando os rivais vascaínos e prevendo que o título viria na quarta-feira seguinte. De fato, ele veio, mas isso é história para outro artigo.

Ficha Técnica

FLAMENGO 2 x 0 VASCO
Final da Copa do Brasil 2006

Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data: 19/07/2006
Árbitro: Leonardo Gaciba
Assistentes: Hilton Moutinho e Ana Paula de Oliveira

Gols: 14’/2ºT – Obina (FLA); 17’2ºT – Luizão (FLA)

FLAMENGO: Diego, Renato Silva (Obina), Ronaldo Angelim e Fernando; Leonardo Moura, Jônatas, Toró (Júnior), Renato, Renato Augusto (Rodrigo Arroz) e Juan; Luizão. Técnico: Ney Franco

VASCO: Cássio, Wágner Diniz, Fábio Braz e Jorge Luiz; Diego, Ives, Andrade, Morais e Ramon (Abedi); Valdiram (Ernani) e Edílson. Técnico: Renato Gaúcho.

2° Jogo

Após ter ganho o primeiro jogo por 2×0, o Flamengo entrou em campo na noite do dia 26 de julho de 2006 com uma vantagem considerável para a finalíssima da Copa do Brasil daquele ano, diante do Vasco, no Maracanã. Mas, clássico e clássico, e os jogadores do Fla, conscientes disso, trataram de rechaçar o favoritismo e entrar em campo com raça para conquistar o título. E conseguiram.

Em uma partida muito movimentada, o time da Gávea começou melhor, e logo com 1 minuto de jogo, Léo Moura deu ótimo passe para Renato Augusto, que sozinho, à frente do goleiro, desperdiçou a chance, mas animou a torcida. Quinze minutos depois, um lance crucial na partida. O atacante vascaíno Valdir Papel cometeu dura falta em Leonardo Moura, e como já tinha levado cartão amarelo, foi expulso. Mais festa ainda da torcida rubro-negra e um sinal de que o título estava próximo.

 

Mesmo atordoado com a expulsão de Valdir Papel, o Vasco quase abriu o placar, aos 18, quando Morais arriscou de fora da área. Mas o goleiro Diego salvou o rubro-negro, que, a partir daí, foi o dono do jogo. Aos 21, Obina recebeu passe de Renato dentro da área. Ele tentou o chute, a zaga cortou, e no rebote ele bateu por cima do gol.

 

Três minutos depois, aos 27, o lateral-esquerdo Juan entrou para a história do Flamengo. Após rebatida na área, a bola sobrou limpa para o jogador, na meia-lua. Com um chute forte no canto esquerdo, ele abre o placar. 1×0 para o Flamengo. Somando as duas partidas, 3×0, e ainda com um homem a mais em campo. O título estava garantido.

Na volta do intervalo, a equipe rubro-negra demonstrou seriedade e continuou pressionando os vascaínos. Aos 10, Obina acertou a trave. Aos 15, Jônatas quase marcou um golaço. Após driblar três marcadores, entrou na área, mas chutou fraco, para a defesa do goleiro Cássio. Aos 21, foi a vez de Luizão quase marcar. O atacante acertou a trave em chute de dentro da área. Aos 40, já com a certeza do título, a torcida começa a gritar olé e a soltar o grito de “Bicampeão” aliado a um coro já tradicional nos jogos decisivos contra o Vasco: “Ôôôô, vice de novo!”

 

Ficha Técnica

VASCO 0 x 1 FLAMENGO
2º Jogo da Final da Copa do Brasil 2006

Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data: 26/07/2006
Árbitro: Carlos Eugênio Simon
Assistentes: Ednilson Corona e Aristeu Tavares

Gol: 27’/1ºT – Juan (FLA)

VASCO: Cássio, Wagner Diniz, Fábio Braz, Jorge Luiz e Diego; Ygor, Andrade (Abedi – 8’/2ºT), Ramon (Valdiram – 32’/1ºT) e Morais (Ernane – 12/2ºT); Edilson e Valdir Papel – Técnico: Renato Gaúcho

FLAMENGO: Diego, Rodrigo Arroz, Fernando e Renato Silva; Leonardo Moura, Jônatas, Toró (Obina – 19’/2ºT), Renato, Renato Augusto(Peralta – 31’/2ºT) e Juan; Luizão (Léo – 41’/2ºT) – Técnico: Ney Franco.

O Zico em Udine

O Zico em Udine

Em 1983 o Flamengo conquistou o Tricampeonato Brasileiro. Fizemos todos os jogos do campeonato e pudemos atestar a popularidade do Flamengo e da Raça. Onde o time jogasse, era festa na cidade e havia sempre gente querendo saber onde os “caras da Raça” estavam.

Numa dessas viagens, logo na primeira fase, fomos a Manaus, Belém e São Luiz. Em Belém, estávamos eu e Zé Carlos no saguão do hotel, fazendo hora, quando chega um grupo de rapazes dizendo-se fundadores da “Fla Fla de Belém”. Eles iam estrear no jogo contra o Paissandú e queriam oferecer o apoio da torcida. Um deles, médico, falou:

– Tudo o que vocês precisarem a gente faz.

Não sei porquê, me deu um estalo e eu falei:

– Tá bom, vamos agitar um pouco Belém. Isso aqui tá meio morno. Vamos promover esse jogo.

O pessoal da “Fla Fla” era bem relacionado e começamos uma peregrinação pelas rádios e televisões. Viramos celebridades locais, dando entrevistas, desafiando o Paissandú a fazer gol no Flamengo e, mais do que tudo, convocando toda a torcida do Flamengo para ficar onde a faixa da Raça estivesse. Foram dois dias de promoção, que agitaram a cidade. O jogo, que já ia ser sucesso garantido, arrebentou.

No domingo não cabia nem uma pulga no estádio, que estava sendo inaugurado (inacabado) naquele dia. Deu até medo do troço desabar. Mas o mais bonito era ver que 80% do estádio eram Flamengo, e que todo mundo que entrava apontava logo para a faixa da Raça e vinha em nossa direção. São espetáculos como esse que recompensam o esforço.

Mas é claro que o fato marcante de 1983 foi a venda do Zico para a Udinese. Uma tragédia. Uma frustração enorme ver o Galo jogando com outra camisa (e, o pior, alvi-negra). Quando foi anunciada a venda, a galera queria quebrar a Gávea. Foi uma loucura conter o pessoal. Só mesmo a liderança do Cláudio, pois, se fosse hoje, não sobrava nem azulejo da sede nova.

O que mais irritava era a atitude de indiferença de certos setores do Clube. No meio da confusão em que a Gávea se transformara, um “benemérito” gritou:

– Esses merdas ficam reclamando da venda do Zico. Mas foram quatro milhões de dólares! O Flamengo precisa desse dinheiro e esses favelados não devem nem ter noção do que é isso.

O Zé, que morava num apartamento que valia isso, berrou também:

– Quatro milhões acabam em um mês, com a roubalheira aqui dentro. Isso não é dinheiro para um clube do tamanho do Flamengo. O Zico é muito mais importante do que essa merreca, seu merda. Meu apartamento vale isso e tu não tem dinheiro pra comprar…

Ele ficou tão abalado que cheguei a sugerir que fosse a um analista.

Mas divã de torcedor fanático é a arquibancada. O Flamengo foi convidado para fazer o jogo de apresentação do Zico em Udine, e depois para participar do Mundialito de Clubes Campeões Mundiais, que seria realizado em Milão (Itália), com a participação da Juventus, Milan, Internazionale e o Peñarol, do Uruguai. Essa era a nossa oportunidade para espantar a depressão.

Só que, para variar, estávamos duros. Não dava para guardar dinheiro. Era viagem em cima de viagem, no Brasil e no exterior. Mas também não dava para perder a estréia do Galo. Impossível perder esse jogo. Fizemos os planos, contamos o dinheiro, vendemos o que restava para vender, e conseguimos uns trocados. Para nossa sorte, dessa vez o dólar paralelo estava com um ágio de quase 100% sobre o oficial.

Pegamos trezentos dólares (verdinhas) na mão, fomos a uma casa de câmbio trocar por cruzeiros, no mercado paralelo. Quase dobramos nossa grana. Depois fomos ao Banco do Brasil para comprar US$500,00 no câmbio oficial, em nome do Zé Carlos. Como o gerente era “componente da Raça”, nos deu a grana em papel (cash). Voltamos à casa de câmbio: vendemos os US$500,00 no paralelo e repetimos a operação no Banco do Brasil, agora em meu nome. Êta país legal! Com apenas duas atravessadas de rua transformamos US$300 em US$1000. Depois vendemos os US$1000,00 no parelelo e já deu para a entrada nas passagens aéreas. Puxa daqui, arranja dali, conseguimos mais uns trocados (em dólar). Para engrossar o orçamento, levamos cinqüenta camisas do Flamengo, pensando em vender a no mínimo, cinqüenta dólares cada. Compramos as passagens Rio-Madrid-Rio, planejando encarar o resto da viagem de trem. Sabia que, se a coisa apertasse, dava pra correr para Barcelona e rever os amigos do “Regencia Colon”.

Chegamos em Udine na véspera do jogo e ficamos num hotelzinho perto da estação. Nesta altura do campeonato, o Zico já era o dono da cidade: o prefeito, gari, médico, deputado etc. Ficamos conhecidos na cidade como “amigos do novo jogador” E olha que ele nem tinha estreado ainda. Quando chegamos ao hotel vestidos com a camisa do Flamengo, a diária baixou para vinte dólares (apartamento duplo). Já deu uma aliviada, porque tínhamos gastado mais de cento e cinqüenta dólares com passagens e comida de Madri até Udine.

Por volta das dez da manhã fomos ao hotel do Flamengo, que ficava nos arredores da cidade. Lembro-me bem da cara de espanto do doutor Taranto (medico da delegação) quando nos viu:

– Até aqui Moraes?! Não acredito! Eu já devia estar acostumado…

O Zico também estava no hotel. Uma confusão dos diabos. A imprensa do mundo inteiro estava lá, sem entender como o maior jogador do mundo foi jogar no Madureira de lá. Coisas da vida…

A essa altura todo mundo já tava sabendo “da nossa fama”, tanto assim que os dirigentes da Udinese se colocaram à nossa disposição. Nós só pedimos as entradas para a partida e que pudéssemos ir ao gramado colocar nossas faixas. Digo nossas porque tínhamos duas, desta vez: a tradicional, da Raça, e uma feita com esparadrapo no hotel, com os dizeres “Buona fortuna, Zico”. Na hora do jogo veio um carro nos levar e tivemos total liberdade para nos movimentar no estádio e colocar as faixas. Dentro do estádio fomos aplaudidos. Os caras deliravam… Já imaginou? Uma cidadezinha do tamanho de um ovo, recebendo o maior jogador do mundo, o que atraiu toda a imprensa do planeta? Alguém já havia ouvido falar de Udine???

Aproveitando o sucesso, abrimos logo a nossa “boutique”. Do nosso estoque só levamos dez camisas, que foram vendidas em pouco tempo a setenta dólares cada. Se tivéssemos levado todas para o estádio, não sobraria uma. Mais uma vez deu vontade de matar o Zé. Foi ele que insistiu que, em Milão, o preço seria maior… Levamos “um chocolate”. Eles fizeram 4 a 1 rapidinho e, se não fosse o Raul em dia inspirado, íamos tomar de dez. Triste mesmo foi ver o Zico jogar, ainda que só por quinze minutos, com aquela camisa preta e branca. O Zé estava arrasado, pronto para voltar para o psicanalista.

– Nunca pensei, Moraes, nunca pensei que fosse ver o Zico jogando contra. É de doer – choramingava ele.

No dia seguinte retornamos a Milão para ver o “Mundialito”. Nosso problema era grana e, nossa sorte, o Flamengo. Conhecemos um cara chamado William, brasileiro, goiano e flamenguista roxo, que morava em Milão e estudava medicina. Como era período de férias, ele conseguiu que ficássemos no dormitório da faculdade (que era católica) por sete dólares, por pessoa. Mais barato que isso impossível. O único inconveniente era o horário e a disciplina do local. Havia uma espécie de toque de despertar, às seis da matina, e outro de recolher, às dez da noite.

Conseguimos contornar a situação “subornando o administrador do prédio com uma camisa do Flamengo”. Assim, dormíamos o quanto quiséssemos e saíamos dos quartos quando a barra estava limpa. À noite era mais fácil. Os padres dormiam cedo e entrávamos pelos fundos, com a chave que o administrador nos emprestou. Íamos ficar quase quinze dias em Milão, com pouca grana (pouquíssima). Passeávamos pela cidade e íamos sempre para o hotel da delegação, que ficava num condomínio imenso, uma verdadeira cidade dentro de Milão. Tanto que se chamava Milano Due (Milão 2). Era longe pra burro, pegávamos um metrô e um trem para chegar lá.

Dada a nossa precária situação financeira, pedimos (pela primeira vez na vida) para ir aos jogos e aos poucos treinos no ônibus da delegação. Fomos prontamente atendidos, até porque parecia que a viagem era de férias. Todos os jogadores que quiseram levaram as mulheres, noivas, namoradas e agregadas. Havia também uns trinta diretores com as respectivas esposas. Uma verdadeira festa (o dinheiro da venda do Zico estava sendo bem aplicado…). Resolvemos, então, ser “beirinhas vips” (se arrependimento matasse…).

A Ana, mulher do Raul (goleiro), desconfiou que estávamos numa pior e, com instinto de “super-mãe”, todo dia, no café da manhã dos jogadores, preparava um verdadeiro farnel para nós: pão, biscoito, manteiga, geléia, queijo, frutas etc. Tudo devidamente surrupiado e entregue numa sacola. Aquilo era o nosso café, almoço, jantar e ceia. Manjar dos deuses para quem estava como a gente.

Na véspera da primeira partida recebemos um reforço de peso. Chegou de Londres, onde estudava inglês, o meu amigo Emanuel de Castro, o popular Danone. Por sinal, o Danone hoje é um grande produtor de filmes de surf, sendo bicampeão mundial dessa atividade e um “grandão” da TV Globo. Taí uma coisa que eu gostaria de entender: até à última vez que o vi, o Danone entendia tanto de surf como eu entendo de medicina nuclear, ou seja, nada. Se alguém quebrasse o quenco dele com uma prancha de surf, ele ia pensar que tinha sido atropelado por uma tábua de passar roupa… Por favor, meu irmão, me ensina o caminho das pedras!

Ficamos os três juntos até o final do torneio. No jogo contra o Milan vendemos as trinta camisas restantes. O menor preço foi de setenta dólares. Dependendo da cara do freguês, custava cem.

Decidimos o título com o Juventus e, além de jogarmos mal, fomos escancaradamente roubados pelo Juiz. Perdemos de 2 a 1. Jogamos tão mal que o próprio Presidente do Flamengo, que estava com a esposa… Saiu antes do final do jogo, resmungando:

– Nunca vi tanto rebolado na minha vida…

Após a partida algo bem mais desagradável do que a derrota nos esperava – o problema começou no dia em que aceitamos a gentileza do Flamengo de nos ceder ingressos. Apesar do gesto simpático, nós continuávamos sendo torcedores e fomos às próprias custas ver o nosso time jogar. Não éramos profissionais de torcida. E, como torcedores pagantes, tínhamos todo o direito de xingar, pedir raça, enfim, agir como um torcedor normal quando vê uma jogada errada ou um gol perdido. Isto é normal em qualquer estádio do mundo. Eu, particularmente, já xinguei o Zico, o Leandro, o Júnior, o Carpegiani, craques que também erravam. Uma das madames que viajou de graça se sentiu ofendida ao ver (ouvir) o nome do maridinho em nossas bocas, e foi reclamar com o Carlos Alberto Torres, técnico da equipe, que nós estávamos ofendendo os jogadores, chamando-os de maricas (quem ainda usa “maricas”?), frouxos, mascarados etc. Coisa típica de perua…

Depois do jogo, todo mundo de cabeça quente, e nós no ônibus que levaria a delegação de volta para o hotel. O Carlos Alberto Torres chegou no meio do ônibus e começou um discurso enaltecendo a raça do time do Flamengo. Até aí, tudo ia bem, se bem que nenhum de nós entendia onde ele queria chegar. De repente, ele passou a berrar e de dedo em riste:

– Você e você: – apontando para nós dois – nenhum jogador do Flamengo é maricas, frouxo ou covarde. São homens que honram a camisa…

A gente, sem entender absolutamente nada, falou:

– Tu tá maluco. O que aconteceu?

Ele e um dirigente, transtornados, partiram para me dar porrada. Vocês já viram o tamanho do homem? 2,95m por 0,90m, isso sentado. Desci do ônibus batendo todos os recordes de corrida com obstáculos. Quem salvou a pátria foi o Márcio Guedes, na época comentarista da TV Globo, que nos botou num carro e nos levou para o nosso mosteiro.

Arrasados, pela derrota e, principalmente, pelo incidente, iniciamos na mesma noite a volta para o Brasil, via Barcelona e Madri. Estava preocupado com o estado emocional do Zé, que nem falava, nem comia. Paramos um dia em Barcelona para “conversar” com o pessoal da VARIG.

É que nossos bilhetes aéreos eram da gloriosa PLUNA (Las Primeras Lineas Uruguayas de Navegacion Aerea). Alguém aí já viajou de Pluna? Naquela época, a simpática companhia aérea cobrava um preço baratinho para a Europa, mas em compensação… Pra resumir: certa vez, em um vôo, pedi um copo d’água. Ouvi na lata: vai pegar, se quiser! E na hora da comida, o comissário perguntava, no “gritão” mesmo: quem quer comer, levante a mão. Quem levantasse tinha que ficar esperto porque eles jogavam a bandeja na tua direção. Se pegasse, comia… Se não pegasse, levava uma bandejada nos cornos… Meus Deus! Socorro!!!

Nossas passagens eram para 5 dias após. Não dava mais para passar cinco dias na Espanha, sem dinheiro. Detalhe: nossos bilhetes Pluna não eram endossáveis. Usando a deplorável figura do Zé Carlos como argumento, consegui dobrar o gerente da VARIG, em Barcelona, que literalmente rasgou os bilhetes daquela companhia e nos colocou em um vôo (Varig) para o dia seguinte. Partimos no trem noturno para Madri. De manhã, já na capital espanhola, fizemos a única coisa sensata a fazer. Fomos para o aeroporto às onze da manhã para aguardar o vôo que saía à meia-noite.

Do aeroporto de Madri ligamos para o Cláudio no Brasil, e relatamos o ocorrido. Ele imediatamente se movimentou e no dia seguinte o Jornal do Brasil deu meia página sobre o episódio. Quando chegamos ao Galeão, a galera nos esperava num ato de desagravo. Não demorou muito o Carlos Alberto foi demitido do Flamengo…Pouco tempo depois, o presidente renunciou…

Emelec-Flamengo

Flamengo Campeão da Taça Libertadores da América 1981

A história costuma se referir ao período compreendido entre os anos de 1978 a 1983 como a Era de Ouro do Flamengo, delimitada, de um lado, pelo gol de Rondinelli contra o Vasco, e de outro, pela saída de Zico para a Itália. De fato, o time da Gávea empilhou taças conquistando quatro campeonatos estaduais, três brasileiros, a Libertadores e o Mundial, além de vários turnos do estadual – incluindo-se aí um pentacampeonato da Taça Guanabara – e torneios na Europa. Uma Era de Ouro, sem dúvida, mas que chegou a ser questionada justamente antes da arrancada para as duas maiores conquistas.

Ao ser eliminado do campeonato brasileiro de 1981, no dia 19 de abril, o Flamengo se viu às portas de uma crise com muitos personagens. Na verdade, cinco meses antes da derrota para o Botafogo nas quartas-de-final da Taça de Ouro, o time havia perdido a chance de disputar o tetracampeonato estadual ao ser derrotado pelo Serrano, de Petrópolis, com um gol que tornou o seu autor, o desconhecido Anapolina, uma celebridade instantânea. O revés no acanhado Estádio Atilio Maroti foi tratada como uma fatalidade, mas a eliminação diante do Botafogo expôs as chagas flamengas – existentes e inexistentes – em praça pública.

A edição de número 571 da Revista Placar, de 24 de abril de 1981, trouxe em sua página 12 uma matéria revelando a crise rubro-negra sob uma manchete em letras garrafais: CAIU UM IMPÉRIO. O texto assinado pelo jornalista Marcelo Rezende era taxativo: Todo grande time vive seu ciclo de glórias – e o do Flamengo sofreu uma brusca interrupção com a derrota de 3 a 1 para o Botafogo. Embora um dia isso tivesse que acontecer, ninguém imaginava que as conseqüências acabassem sendo tão dramáticas.

As citações usadas na reportagem refletem o ambiente do clube. Disse Júnior: – É o fim de tudo. Pensei que esse dia nunca fosse chegar. Perdemos o bi de maneira desastrosa. Já Tita, que vinha de uma campanha para vestir a camisa 10, acusava a imprensa: – A culpa é dos jornais, que vivem inventando crise no Flamengo. E sobre Tita, lá estava o sentimento de um torcedor anônimo, dizendo querer queimar vivo o jogador: – Como a polícia não deixa, queimo tua camisa! Para fechar o texto, Marcelo Rezende fitava o futuro incerto escorado nas ruínas rubro-negras: Resta ao Flamengo o desafio de reerguer o seu império desmoronado.

O técnico Dino Sani, contestado por deslocar Adílio para a ponta esquerda, teve seus planos esmiuçados pelo repórter Hideki Takizawa na edição seguinte da revista Placar, divididos em 6 tópicos: Devolver a titularidade a Rondinelli e vender Luís Pereira, contratado a peso de ouro; efetivar Mozer como quarto-zagueiro e barrar Marinho; dar a camisa 8 a Andrade e vender Adílio; comprar um ponta; acertar a renovação de Zico e vender Tita, que estava em descrédito com a torcida e, finalmente, restabelecer a paz entre Nunes e o resto do elenco.

O distanciamento histórico permite um diagnóstico mais preciso, até mesmo porque baseado nas soluções que foram encontradas – e a maior parte delas, as de campo e comando, estava ali mesmo, na Praça Nossa Senhora Auxiliadora, sem número, Rio de Janeiro. Dois problemas: Primeiro, o Flamengo pagava pelo cansaço de Júnior, Tita e Zico, divididos com a seleção brasileira em plena maratona das eliminatórias. Segundo, nem Dino Sani e nem o seu antecessor, o grande Modesto Bria, haviam conseguido substituir Cláudio Coutinho à altura. A primeira solução foi de calendário: a seleção brasileira se reuniu apenas uma vez por mês no segundo semestre, para amistosos. A segunda foi caseira: o melhor treinador para aquele grupo estava por perto, às voltas com as contusões que encerrariam prematuramente a sua carreira de meio-campista.

Aos 32 anos de idade, em meio ao turbilhão em que se encontrava a Gávea, Paulo César Carpegiani se tornou auxiliar técnico de Dino Sani. Mas a sua influência junto aos jogadores e o evidente poder de decisão renderam-lhe o apelido de “Golbery do Futebol”, alusão ao ministro-chefe do Gabinete Civil do então presidente do país, João Batista Figueiredo. Assim, na metade de junho, Carpegiani estava ao lado de Dino quando o Flamengo deu mostras de que estava recuperado do baque na Taça de Ouro, ao vencer o Torneio de Nápoles marcando dez gols em dois jogos, jogando com dois pontas abertos, Chiquinho e Baroninho.

A quatro dias da estréia na Taça Libertadores, a derrota por 2×1 para o Fluminense pela Taça Guanabara acendeu a luz de alerta. Embora tenha sido o primeiro resultado negativo no campeonato estadual, o tema no vestiário após o jogo era o pouco comando de Dino Sani como treinador e, na mesma toada, a falta que fazia a liderança de Carpegiani dentro das quatro linhas.

O Mineirão recebeu mais de sessenta mil pessoas na noite de sexta-feira, 3 de julho de 1981. Atlético Mineiro e Flamengo ainda tinham abertas as feridas da épica decisão do campeonato brasileiro do ano anterior. Para aumentar o drama, os dois treinadores – Pepe, no Galo, e o rubro-negro Dino Sani – estavam na corda bamba. Uma estréia com os nervos à flor da pele.

Os dois times tiveram chances de abrir o placar, mas o time da casa saiu na frente aos 28 minutos. Éder acertou uma bomba no ângulo esquerdo de Cantarele em uma cobrança de falta e incendiou o Mineirão. O Flamengo quase empatou em uma jogada individual de Vitor, que formava o meio de campo rubro-negro ao lado de Andrade e Zico. Nunes também esteve perto de marcar, em uma meia-bicicleta, mas o primeiro tempo acabou mesmo com a vantagem mineira.

Aos 18 do segundo tempo, em outra cobrança de falta, Éder abriu 2×0 – desta feita, em falha de Cantarele. A vantagem de dois gols não se consolidou. Ainda com o Mineirão em chamas, aos 20 minutos Zico enfiou uma bola para Nunes entre dois beques, e à saída de João Leite o centroavante rubro-negro tocou de leve, no canto direito, fazendo o primeiro gol do Flamengo na história da Taça Libertadores da América. Tita quase empatou o jogo em uma cabeçada que por pouco não encobriu João Leite, mas o feito caberia mesmo ao zagueiro Marinho, um dos mais contestados após a derrota para o Botafogo em abril. A 5 minutos do fim, Baroninho bateu um escanteio da ponta direita. A bola subiu e passou por toda a defesa, indo ao encontro de Marinho no bico esquerdo da pequena área. A cabeçada saiu alta, encobriu o goleiro atleticano e morreu no ângulo contrário, silenciando o Mineirão. Enquanto Dino Sani ganhava uma sobrevida, do outro lado o técnico Pepe era demitido pela diretoria atleticana.

No outro jogo do grupo, o clássico paraguaio entre Cerro Porteño e Olimpia, empate em 0x0. Antes da segunda rodada da Libertadores, o Flamengo conquistou antecipadamente o tetracampeonato da Taça Guanabara, festa que se prolongou com os 5×2 impostos ao Cerro Porteño no Maracanã, no dia 14 de julho. Dois gols de Zico – um deles em magnífica cobrança de falta, deixando o goleiro Fernández estático – abriram a porteira pela qual passaram também dois gols de Nunes e um de Baroninho, este também de falta. A goleada isolou o Flamengo na ponta da tabela, após o empate sem gols entre Olimpia e Atlético Mineiro, em Assunção.

Menos devido aos resultados e mais pelo rendimento do time, a diretoria rubro-negra promoveu a já esperada troca no comando técnico na véspera da partida contra o Olimpia, no Maracanã. Paulo César Carpegiani assumiu o posto na quinta-feira, dia 23 de julho, e no dia seguinte já assinaria a súmula como treinador do Flamengo. O programa Globo Esporte, da TV Globo, exibido no início da tarde de sexta-feira, confirmou a notícia e trouxe a primeira declaração de Carpegiani como técnico em rede nacional: – Eu acredito que não há dificuldade nenhuma, muito pelo contrário. Sempre adorei essa responsabilidade, e agora mais do que nunca estou pronto e apto para encarar esse problema com tranqüilidade.

O Flamengo precisava da vitória, eis que o Atlético havia vencido o Cerro Porteño três dias antes, no Paraguai, com um gol salvador de Éder no final do jogo. Adílio abriu o placar aos 22 minutos, pegando o rebote de uma falta cobrada por Baroninho, mas o goleiro Almeyda impediu que os atacantes rubro-negros transformassem a superioridade demonstrada no primeiro tempo em gols. O panorama mudou no segundo tempo, o Olimpia dominou o meio de campo e empatou com o lateral Solalinde. Os quase quarenta mil torcedores que foram ao Maracanã empurraram o time até o fim, mas o jogo acabou mesmo empatado.

Como os times brasileiros eram os favoritos do grupo, com uma única vaga em disputa, perder ponto em casa para os times paraguaios era um grande prejuízo. O Atlético também sofreu contra o Olimpia, dia 28 de julho, no Mineirão, vencendo por um minguado 1×0 e amargando a expulsão de Éder no último minuto. Desfalcado, três dias depois por muito pouco o time mineiro não perdeu para o Cerro em Belo Horizonte. Vaguinho marcou aos 43 do segundo tempo o último gol do empate em 2×2, deixando os times brasileiros empatados na classificação.

Flamengo e Atlético Mineiro voltaram a se enfrentar no dia 9 de agosto, diante de mais de 60 mil pessoas no Maracanã. Os jogadores rubro-negros celebraram um pacto por Carpegiani, prometendo a classificação na chave, e o time encurralou o adversário no primeiro tempo. Rondinelli quase marcou de cabeça, após um cruzamento de Júnior. Depois foi a vez de Nunes, que dominou no peito um passe de Zico e chutou rente ao ângulo direito. Logo em seguida, João Leite fez uma grande defesa em cobrança de falta de Júnior. Apesar do domínio, nada de gols até o intervalo, e o castigo veio aos 17 do segundo tempo: Palhinha fintou Rondinelli, driblou Raul e tocou para o gol vazio.

Uma vitória do Atlético deixaria a vaga muito perto dos mineiros, pois o Flamengo precisaria vencer seus dois jogos no Paraguai para forçar uma partida desempate. Empurrado pela torcida e pela necessidade, o Mais Querido foi em busca da virada. Aos 22 minutos, Raul saiu jogando com Júnior pelo lado esquerdo. Júnior avançou até a intermediária e esticou para Zico na ponta esquerda. O camisa 10 da Gávea foi encurralado pelo beque Heleno, mas aplicou-lhe um drible espetacular e cruzou para o meio da área. João Leite tentou interceptar, mas soltou a bola nos pés de Nunes, que não perdoou. Dois minutos mais tarde, para delírio do Maracanã, Tita roubou uma bola de Heleno e chutou de pé esquerdo, por baixo, indefensável, no canto direito de João Leite.

O Flamengo continuou atirado ao ataque, e quase matou o jogo em uma arrancada de Nunes pela direita. Mas aos 34, depois de uma tabela entre Cerezo e Palhinha, Reinaldo saiu na cara de Raul e empatou o jogo. Mais tarde, em entrevista ao radialista Kleber Leite, da Rádio Globo, Carpegiani lamentou que o time tivesse continuado a atacar incessantemente após virar a partida, mas disse ter fé em duas vitórias no Paraguai.

No dia 11 de agosto, no Defensores del Chaco, o Flamengo goleou o Cerro Porteño por 4×2, três de Zico e um de Baroninho. O terceiro gol rubro-negro, um sem-pulo fantástico de Zico, ecoou de norte a sul do Brasil com a narração épica de Jorge Cury pela Rádio Globo: – Baroni entregou a Tita, Tita recebe, prepara agora, executa o corte, bateu a Ribas, levanta à boca da meta, emenda Zico é gol com aço, é golaçooooo! Batido o Cerro, bastava uma vitória simples contra o Olimpia para avançar à fase semifinal da Libertadores. Uma vitória paraguaia classificaria ao Atlético, e um empate levaria os dois brasileiros para um jogo extra.

O Olimpia já estava eliminado, mas havia um clima de decisão. No mesmo vôo que levou o Flamengo ao Paraguai, estavam dois dirigentes do Atlético, abraçados a bolsas de couro. Eles não confirmaram, mas também não negaram que estavam levando dólares para premiar qualquer um dos times paraguaios que arrancasse ao menos um ponto do Flamengo. E pelo que se viu do Olimpia, naquele dia 14 de agosto, os paraguaios de fato jogaram com uma motivação pouco comum para um time eliminado.

O Flamengo teve uma chance logo no primeiro minuto. Zico entrou na área pela esquerda e rolou a bola em busca de Nunes, mas a zaga bloqueou. Aos 4, de novo Zico, em arrancada pelo meio que resultou em um chute que quase acertou o ângulo direito de Almeyda. Três minutos depois, Nunes cruzou da ponta esquerda e achou Zico na meia-lua, que dominou como um pivô e rolou para Leandro, na meia direita. O chute rasteiro do lateral saiu a um palmo do poste direito, com Almeyda vencido no lance. O Olimpia só ameaçou aos 11 minutos, em dois lances consecutivos, defendidos por Raul.

O Flamengo ainda teve uma oportunidade aos 33 em um chute longo de Vitor, defendido por Almeyda, mas a facilidade dos minutos iniciais desapareceu. As oportunidades de gol, fartas no primeiro tempo, se tornaram escassas na etapa final. Ainda assim, a torcida rubro-negra chegou a sentir o gosto da vitória aos 42 minutos. Tita fez uma jogada individual pela meia esquerda e chutou com efeito, no canto esquerdo. Almeyda espalmou e a bola ficou quicando na pequena área, ao lado do poste esquerdo, com o gol vazio. Chiquinho chegou absoluto no lance, mas ao invés de marcar o gol da vitória tentou servir a Nunes, só que tocou forte demais e a bola atravessou toda a pequena área. O Olimpia comemorou o 0x0 como se fosse um campeonato, e aos rubro-negros restava aguardar o jogo de desempate com o Atlético.

O palco escolhido foi o Serra Dourada, em Goiânia, que foi tomado por mais de 70 mil pessoas no dia 21 de agosto. O Flamengo estava melhor no jogo e já havia perdido dois gols, um com Carlos Alberto e outro com Nunes, quando Reinaldo cometeu uma falta violenta após ser driblado por Zico, aos 37 minutos. O centroavante foi expulso por José Roberto Wright e, após sucessivas reclamações dos atleticanos, Palhinha, Éder, Osmar e Chicão também foram expulsos. Este último admitiu, em entrevista ao repórter Raul Quadros, ainda no campo de jogo, que foi expulso porque sugeriu ao árbitro que expulsasse alguém do Flamengo para compensar. Sem o número mínimo de jogadores no Atlético para continuar o jogo, Wright deu a partida por encerrada e o Flamengo foi declarado vencedor. Os mineiros recorreram à confederação sul-americana, mas o resultado foi mantido. Mas no próprio Atlético, a atitude dos jogadores que tumultuaram a partida após a expulsão de Reinaldo foi questionada internamente, o que resultou na dispensa de Palhinha e Chicão, dias depois.

Até começar a fase semifinal da Libertadores, no início de outubro, o Flamengo se dedicou ao campeonato estadual e a um amistoso histórico, no dia 15 de setembro. Marcando a despedida oficial de Paulo César Carpegiani dos gramados, os rubro-negros enfrentaram o Boca Juniors, de Diego Armando Maradona. Vitória do time de Zico por 2×0, com dois gols do craque maior. Um bom aperitivo para os desafios continentais que se avizinhavam.

O grupo formado por Flamengo, Deportivo Cali e Wilsterman definiria uma finalista da Libertadores. A estréia rubro-negra, em Cali, no dia 2 de outubro, foi uma prova de fogo. Nunes marcou logo aos 10 minutos, de pé esquerdo, mas a correria dos jogadores colombianos não permitiu ao Flamengo impor o seu ritmo cadenciado, e a vantagem só foi mantida até o final graças às grandes defesas de Raul.

A partida mais difícil da fase foi disputada no dia 13 de outubro, a 2.560 metros acima no nível do mar, em Cochabamba. Mais de 35 mil bolivianos gritando em pé, dentre eles o presidente do país, que discursou antes do jogo dizendo que o Wilsterman era a própria Bolívia, transformaram o jogo em uma causa nacional. O clima de euforia no estádio Félix Capriles só diminuiu aos 13 minutos, quando Baroninho desferiu um petardo em uma cobrança de falta e fez o primeiro gol da noite. O Flamengo conseguiu segurar o resultado durante o primeiro tempo, mas aos 8 minutos da etapa final Melgar entrou na área pela direita e chutou rasteiro contra a saída de Raul: 1×1.

O ar começou a faltar para os rubro-negros, e o Wilsterman conseguiu o domínio territorial. Para ganhar fôlego, Carpegiani substituiu Chiquinho por Lico. Naquele momento, o Flamengo começou a ganhar o jogo, e o catarinense a titularidade. Mais do que um ponta, Lico foi um quarto homem de meio de campo que fez o time brasileiro respirar no jogo. De seus pés, aos 19 minutos, saiu a cobrança de escanteio que encontrou Adílio na marca do pênalti. O camisa 8 cabeceou forte, no ângulo esquerdo, e marcou o gol que deixou o Flamengo muito próximo da finalíssima sul-americana.

O Flamengo não teve dificuldades para vencer os dois jogos de volta, aplicando 3×0 no Deportivo Cali e goleando o Wilsterman por 4×1. Na verdade, a vaga na final havia sido assegurada nas duas vitórias fora de casa, e o último desafio na Libertadores seria um violento time de camisas alaranjadas vindo do deserto. O Cobreloa de Mario Soto.

Além das finais da Libertadores, o Flamengo disputava ainda o terceiro turno do campeonato carioca – o Vasco havia vencido o segundo turno. Assim, a semana do primeiro jogo contra os chilenos foi extenuante: domingo, dia 8 de novembro, clássico contra o Botafogo; terça, Americano de Campos; Cobreloa na sexta e Fla-Flu no domingo. A torcida rubro-negra cogitou pedir licença à Suderj para acampar no Maracanã.

Além de entrar para a história como o Jogo da Vingança, os 6×0 impostos ao Botafogo também tornaram definitivo o desenho tático do melhor time do mundo. Aquela foi a primeira partida de Lico como dono absoluto da camisa 11, o que tornou a goleada um marco tático para o futebol brasileiro: Andrade era o primeiro homem do meio, mas de Adílio em diante ninguém tinha posição fixa, e esse carrossel rubro-negro ainda recebia o apoio constante de Leandro e Júnior. Era impossível parar aquele Flamengo.

Mais meia-dúzia de gols para cima do Americano na terça, e o filme se repetiu no primeiro contra o Cobreloa. Diante de 94 mil rubro-negros, o time chegou a ensaiar outra goleada. Dois gols de Zico, o primeiro em tabela com Adílio e o segundo convertendo pênalti sofrido por Lico, criaram uma vantagem que poderia até ser maior não fosse o goleiro Wirth. Mas no segundo tempo a sequencia de jogos cobrou o seu preço, e o cansaço custou um gol chileno.

Dois dias depois, vitória de 3×1 no Fla-Flu com direito a um golaço do novo titular, Lico. Sem poupar jogadores, o Flamengo havia vencido quatro jogos em uma semana , o que justificaria um período de repouso. Mas na verdade, ninguém queria descansar naquela semana. O Flamengo – seus jogadores e sua torcida – queria mesmo era que chegasse logo o dia 20 de novembro, para o jogo decisivo em Santiago do Chile.

Dizia-se que a Libertadores era uma guerra, e poucos momentos podem comprovar essa teoria tão bem quanto aquela sexta-feira sangrenta, que tingiu de vermelho o gramado do Estádio Nacional de Santiago. Vermelhas também ficaram as camisas brancas de Adílio e Lico, covardemente agredidos por Mario Soto sob o olhar complacente do árbitro Ramón Barreto. O Flamengo resistiu até os 33 minutos do segundo tempo, quando uma cobrança de falta desviu em Leandro e enganou Raul, resultando no único gol da partida. Tudo seria decidido em um joga extra no Uruguai.

Os rubro-negros alimentaram o desejo de revanche durante o fim de semana, e na segunda-feira pisaram o gramado do Estádio Centenário carregando a bandeira uruguaia, Zico e Leandro a frente. Jogariam naquela noite para provar que com as armas do esporte ninguém bateria aquele time. Jogariam para vingar o sangue derramado em Santiago. Jogariam por Lico, que não se recuperou dos ferimentos e fez um único pedido a Adílio: – Dê um drible em Mario Soto por mim.

E como jogou Adílio naquela noite, como se o fizesse por ele, por Lico e pelos milhões de rubro-negros. Aos 17 do primeiro tempo ele recuperou uma bola na área chilena e entregou a Andrade, que achou Zico no meio da área. Zico acertou um voleio no canto direito e abriu caminho para o título. Pouco depois, Alarcon cometeu uma falta violenta em Adílio, como se ainda contasse com a impunidade que reinou em Santiago, mas foi expulso por Roque Cerullo.

O Cobreloa continuou batendo, e em um lance de revide, Andrade também foi expulso. Ainda assim, na bola só dava Flamengo, e aos 30 minutos Adílio escapou livre e tentou um toque para encobrir o goleiro Wirth, que já estava fora da área e impediu o drible com as mãos. Falta na entrada da área. Adivinha quem vai bater, pergunta a música, adivinha quem vai bater com a perfeição costumeira, deixando o goleiro chileno congelado no lance? Zico, rei da Nação Rubro-Negra, botou a sua assinatura inconfundível na sentença que declarava o Flamengo o melhor time da América do Sul.

Ainda houve tempo para o reserva Anselmo entrar no jogo e devolver as agressões a Mario Soto, que havia deixado escoriações em Adílio, Lico, Zico e Tita. Mas o que todos queriam era mesmo começar a festa, que seria curta porque ainda havia um campeonato carioca por conquistar e uma longa viagem para Tóquio na metade de dezembro, e todos mereciam festejar aquela taça conquistada com sangue, suor e talento.

Em sua reportagem publicada na Revista Placar, o mesmo Marcelo Rezende que havia anunciado a queda do império rubro-negro meses antes, afirmava que aquele Flamengo campeão sul-americano seria também campeão mundial. Talvez ele tenha firmado sua convicção no instante em que a delegação rubro-negra desembarcou no galeão no dia 24 de novembro de 1981, e Zico mostrou a Taça Libertadores da América aos milhares de súditos que aguardavam a chegada do Rei e dos demais campeões sul-americanos, e os gritos de campeão se espalharam pelo Rio de Janeiro. Estava provado que o império estava mais forte do que nunca.

Ficha Técnica

FLAMENGO 2×0 COBRELOA
Finalíssima da Taça Libertadores da América 1981

Local: Estádio Centenário, Montevidéu (URU)
Data: 23 de Novembro de 1981
Árbitro: Cerullo (Uruguai)

Gols: Primeiro tempo: Zico 18min, Segundo tempo: Zico 39min

FLAMENGO: Raul, Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Adílio, Andrade e Zico; Tita, Lico e Nunes. Técnico: Paulo César Carpeggiani

COBRELOA: Wirth.Tabile. Paes (Munõz). Mario Soto e Escobar. Jimenez. Marello e Alarcon. Puebla. Siviero e Washington Oliveira. Técnico: Vicente Cantatore.

Júnior

Júnior

JúniorLeovegildo Lins da Gama Junior, mais conhecido como Junior, foi um dos melhores jogadores futebol de todos os tempos, entre os três maiores laterais-esquerdos, e um dos grandes ídolos da história do Flamengo.

Fez parte do elenco mais vitorioso da história do Flamengo e é o recordista de partidas oficiais pelo clube, com 857 jogos.

Fez também parte de grandes elencos da Seleção Brasileira, participou das Olimpíadas de Montreal em 1976 e das Copas do Mundo de 1982 e 1986.

Junior nasceu em João Pessoa no dia 29 de junho de 1954, mas veio cedo para o Rio de Janeiro.

Chegando à Cidade Maravilhosa, o garoto chamou a atenção do treinador do Flamengo, Modesto Bria, quando disputava peladas na Praia de Copabacana. Levado para a Gávea, estreiou como profissional no ano de 1974. No início, era lateral direito, mas atuava também no meio-de-campo.

Logo um mês após sua estréia no time de cima, o jovem Junior demonstrou todo o seu talento e sua estrela. Marcou dois gols em uma partida decisiva contra o América, que foi fundamental para a conquista do Campeonato Estadual daquele ano.

JúniorAnos depois, sob o comando de Cláudio Coutinho, Junior passou a jogar improvisado, como lateral-esquerdo. E a estrela dele brilhou mais uma vez. Por muito tempo. Nascia um dos maiores jogadores na posição na história do futebol brasileiro, comparado por muitos ao grande Nilton Santos.

Conhecido como “Capacete”, devido ao seu cabelo black power, o jogador fez parte da Era de Ouro do Flamengo, e é o segundo maior ídolo da história do Clube, atrás apenas de Zico. Com muita competência, bons passes e muita habilidade, Junior foi decisivo nas maiores conquistas dos 112 anos de glórias do Flamengo. Ganhou seis Taças Guanabara, uma Taça Rio, seis Campeonatos Cariocas, uma Copa do Brasil, quatro Campeonatos Brasileiros, a Taça Libertadores da América e o Mundial Interclubes.

JúniorJunior ficou dez anos seguidos no Flamengo, de 74 a 84, quando deixou o Clube para conseguir sua independência financeira, ao ir atuar no Torino e no Pescara, da Itália. Mas, como diz o ditado, “o bom filho à casa torna”. Mais experiente, o “Capacete” virou “Vovô Garoto”, pela velocidade e pelo ritmo que imprimia apesar da idade, e ajudou o Flamengo a conquistar a Copa do Brasil, em 1990, e o Penta Campeonato Brasileiro, em 1992, cujo grande craque foi ele. Na Seleção, Junior participou da equipe que disputou a Copa de 1982, considerada por muitos a melhor Seleção Brasileira de todos os tempos, e atuou também em 1986.

Se despediu dos campos em 93, e depois ainda treinou o Rubro-Negro em duas oportunidades: de 1993 a 1994 e em 1997. Foi vice-campeão carioca em 94, e totalizou 35 vitórias, 21 empates e 20 derrotas, em 76 partidas. Pouquíssimo tempo perto dos treze anos em que vestiu o Manto Sagrado como jogador, sendo o recordista em número de jogos com a camisa rubro-negra: 874.

Flamengo Tricampeão Carioca 2001

rês finais, dois gols de falta, um rival, e o quarto tricampeonato estadual de futebol da história do Flamengo. De Rodrigo Mendes, em 1999, a Petkovic em 2001, um show rubro-negro contra o arqui-rival Vasco da Gama, em três finais seguidas do Campeonato Carioca com os três troféus indo para a Gávea.

Comandado por Romário e Athirson, o Fla conquistou o primeiro o título em 1999 com um gol de um coadjuvante. O meia Rodrigo Mendes, em cobrança de falta rasteira, aos 32 minutos, surpreendeu o goleiro Carlos Germano, do Vasco, e abriu o placar para o Rubro-Negro, que como tinha empatado o primeiro jogo em 1×1, conquistou o troféu. Foi só festa para a torcida do Flamengo, que ainda viria a comemorar o título da Copa Mercosul no mesmo ano.

time tricampeao de 2001

No ano seguinte, em 2000, com Romário jogando do outro lado, e após tomar uma goleada de 5×1 para o Vasco da Gama, na final da Taça Guanabara, o Fla não se abateu, venceu a Taça Rio, e chegou à final do Campeonato Carioca contra o arqui-rival, que era o favorito, e que depois viria a conquistar a Copa Mercosul e o Campeonato Brasileiro daquele ano.

Mas, o favoritismo dos cruzmaltinos foi por água abaixo logo no primeiro jogo da final. Com gols de Athirson, Fábio Baiano e Beto, o Flamengo fez 3×0 e colocou uma das mãos na Taça. A confirmação veio no jogo seguinte, com uma vitória por 2×1, com gols de Tuta e Reinaldo, que decretaram o bicampeonato rubro-negro.

Em 2001, o tri veio com a coroação do iugoslavo Petkovic. Após vencer a Taça GB em uma disputa de pênaltis emocionante contra o Fluminense, o Flamengo chegou a mais uma final de Campeonato Carioca. O adversário? O Vasco da Gama, que estava com o Rubro-Negro engasgado desde 1999. E, não foi dessa vez que a equipe de Eurico Miranda conseguiu se desengasgar. Mesmo vencendo o primeiro jogo da final por 2×1, os vascaínos não conseguiram levar o caneco para São Januário. Tudo por causa da dupla Petkovic e Edílson.

Com dois gols do artilheiro do campeonato, Edílson, o Fla vencia a partida por 2×1 até os 43 minutos do segundo tempo. O placar dava o título ao Vasco, e a torcida cruzmaltina já comemorava, quando o árbitro Léo Feldman marcou falta para o Flamengo. Com muita categoria, Pet cobrou o tiro livre com perfeição e fez explodir a torcida rubro-negra, maioria no Maracanã e em todo o Brasil. 3×1, e a certeza de mais um título em cima do rival. Uma sequência inesquecível de títulos para todos os torcedores do Flamengo.

O jogo do Título: Flamengo 3×1 Vasco

Um jogo digno de Flamengo e Vasco. Um jogo digno de final de Campeonato Carioca. Esta foi a decisão do Estadual do Rio de Janeiro do ano de 2001. Diante de mais de 60 mil pessoas no Maracanã, o Fla fez o impossível. Não tomou conhecimento do rival e de sua vantagem, e aplicou um 3×1 inesquecível, com dois gols de Edílson, artilheiro do campeonato, e um de falta do maestro Petkovic, imortalizado na história do Clube.

Durante o primeiro tempo, o jogo foi bem agitado. Nervoso e precisando do resultado, o Flamengo pressionava, enquanto o time de São Januário se mandava nos contra-ataques. Logo no início do jogo, Viola poderia ter aberto o placar para o Vasco da Gama, mas Júlio César Soares Espíndola salvou o Fla. Mas, aos 23, quem, de fato, abriu o placar, foi o Flamengo. O lateral-esquerdo Cássio foi derrubado na área. Pênalti. O artilheiro do time do Campeonato, Edílson bateu e marcou. 1×0 para o Rubro-Negro, que precisava de mais um gol para conquistar o título.

No entanto, quem marcou em seguida foi o Vasco. Primeiro com Euller, em gol que foi anulado pelo bandeirinha, devido ao impedimento. Depois, após tanto pressionar, e perder novas chances com Viola e Euller, Juninho Paulista empatou o jogo, após receber passe do atacante Viola, dentro da área. O próprio Juninho poderia ter decidido o jogo. Mas, Júlio César salvou o Fla. De novo. Fim do primeiro tempo, vantagem do Vasco, com o Flamengo precisando de dois gols para ser campeão. Honrando a camisa que vestiam, os jogadores nunca deixaram de acreditar.

Na volta do intervalo, o Flamengo mostrou ao que veio. Empurrado pela torcida, mesmo com o título longe, o Rubro-Negro se superou, e chegou ao segundo gol. Aos 8 minutos, começava a brilhar a estrela de Petkovic. Em bela jogada pela ponta-esquerda, o camisa 10 do Fla deu belo cruzamento para o artilheiro Edílson, o baixinho da vez, já que Romário, do Vasco não jogou, completar de cabeça: 2×1 para a equipe vermelha e preta.

A partir daí, só emoção. Juninho Paulista cobrou falta com perigo e acertou o travessão de Júlio César. Euller chegou a driblar o goleiro em outro lance perigoso a favor dos cruzamaltinos. Mas, ficou sem ângulo, e perdeu a chance. O Vasco era só pressão, mas parava nas mãos do iluminado goleiro rubro-negro. Até que, aos 43 minutos do segundo tempo, com a torcida vascaína já comemorando o título, veio o momento que não sai da cabeça de quem assistiu àquela decisão.

Falta para o Flamengo, na entrada da área, em cima de Edílson. Adivinha quem vai bater? É o camisa 10 da Gávea. Música famosa de Jorge Ben, em homenagem a Zico. Não foi bem este camisa 10 da Gávea quem bateu. Foi outro. O sérvio Petkovic. Mas a classe e categoria da cobrança foram as mesmas do Galinho de Quintino, maior ídolo da história do Clube. As imagens não saem da cabeça dos rubro-negros. O lateral-direito Alessandro rezando no banco de reservas. Zagallo segurando uma imagem de São Judas Tadeu. O então técnico vascaíno Joel Santana desesperado no banco. Era um momento decisivo. Caso o Flamengo fizesse o gol, seria tricampeão. Em uma linda coreografia, a torcida rubro-negra passou energia positiva para o time. O árbitro Léo Feldam apitou, Petkovic partiu para a bola, e como se tivesse colocado com a mão, a bola foi parar no fundo das redes, no ângulo esquerdo do goleiro vascaíno Helton. Sem chances, indefensável, indescritível, emocionante. Uma explosão de alegria em vermelho e preto se deu no Maracanã e em todo Brasil.

A partir daí, foi só comemorar. Abrindo o novo século no futebol carioca com um título todo especial. Um tricampeonato na virada do século XX para o século XXI. Um tricampeonato com três conquistas em cima do arqui-rival Vasco. Um tricampeonato com tudo que o torcedor do Flamengo merecia, e da maneira que ele mais gosta: com raça e emoção.

Zizinho

Zizinho

Márcio BragaThomaz Soares da Silva (São Gonçalo, 14 de setembro de 1921 — Niterói, 8 de fevereiro de 2002), conhecido como Zizinho, foi ídolo de infância de Pelé. Algo mais precisa ser dito sobre Thomaz Soares da Silva, o Zizinho? Era ídolo não só de Pelé e da torcida do Flamengo, mas também de todos que admiravam o bom futebol. Melhor jogador brasileiro da época, Zizinho é um típico exemplo de que “Craque o Flamengo faz em casa”.

Sua carreira começou em 1939, no Rubro-Negro. Havia sido recusado pelo América e feito uma pequena passagem pelo São Cristóvão, mas começou mesmo foi no Fla. E à primeira vista, o Thomazinho, muito franzino, provocava desconfiança. Mas era só dar a bola em seu pé, que isso ficava pra trás. Assim como os adversários.

Sua raça e habilidade, logo lhe deram espaço na equipe do Flamengo. Com muita clarividência, antecipava as jogadas e compreendia como poucos a dinâmica do futebol. Por isso, passou a ser reverenciado como Mestre Ziza. E, de fato, era um Mestre. Foi o maior jogador do primeiro tricampeonato carioca do Flamengo, de 1942 a 1944. Segundo Nélson Rodrigues, bastava os alto-falantes do Maracanã anunciarem o nome de Zizinho para saber quem seria o vencedor da partida.

Em 11 anos vestindo o Manto Sagrado, Zizinho marcou 145 gols em 318 jogos. Deixou o Rubro-Negro em transação polêmica, em 1950. Foi para o Bangu, pouco antes da Copa daquele ano, que foi a grande decepção de sua carreira e de todos os brasileiros da época. Porém, mesmo com a derrota diante do Uruguai na final da competição, o Mestre Ziza foi considerado o melhor em campo. Ficou no Bangu até 1957, e de lá foi para o São Paulo, onde ficou por um ano, e depois para o Audax Italiano, do Chile, onde encerrou sua carreira, em 1962.

Flamengo Campeão

Flamengo Campeão da Copa Mercosul 1999

A Copa Mercosul foi uma competição disputada entre os anos de 1998 e 2001 pelos principais clubes de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. A competição foi criada para substituir a Supercopa dos campeões da Libertadores da América e os integrantes eram escolhidos pela emissora de televisão que organizava o torneio. Foi substituída pela Copa Sul-Americana em 2002.

Após uma campanha não muito boa na competição no ano de 1998, o Rubro-Negro, comandado pelo técnico Carlinhos, fez bonito no ano seguinte, e chegou à decisão da Copa Mercosul. Depois de partidas memoráveis, como um 7×0 diante do Universidad do Chile e um 4×0 pra cima do Independiente, da Argentina, o Rubro-Negro chegou à final do torneio contra outra equipe brasileira. O adversário (e favorito ao título) era o Palmeiras, atual campeão da competição, e que tem uma grande história na Copa Mercosul. Chegou à três finais do torneio (mas levou o troféu apenas uma vez).

Foi em 16 de dezembro de 1999 que foi disputada a primeira partida da final. Diante de um Maracanã não muito cheio, o time da Gávea proporcionou uma partida emocionante aos seus torcedores. Em um jogo cheio de viradas no placar e com muitos gols, a equipe rubro-negra venceu por 4×3, e deu o primeiro passo rumo a mais um título internacional na sua história, mesmo sem o grande jogador daquela campanha, o atacante Romário, que desfalcou o Fla nas partidas decisivas.

E, no dia 20, as equipes fizeram o jogo de volta da finalíssima. Em um Palestra Itália com mais de 30 mil pessoas, o time da Casa abriu o placar, mas não conseguiu segurar o resultado da partida, que acabou terminando em 3×3, resultado que deu o título ao Flamengo, campeão fora de casa, derrotando o favorito Palmeiras, que sonhava com o bicampeonato.

1° Jogo da Final

Palmeiras e Flamengo fizeram uma decisão eletrizante, com dois grandes jogos de futebol, dignos de uma final de torneio internacional. Na primeira partida, realizada no Maracanã, levou a melhor o time carioca.

No primeiro tempo, o Flamengo começou melhor, e logo aos 5 minutos abriu o marcador com uma bela cabeçada de Juan, completando cobrança de escanteio vinda do lado direito do ataque rubro-negro. Mas, o time carioca se acomodou e o Palmeiras não deixou o Fla em paz até fazer o gol de empate, aos 44 minutos, com o zagueiro Júnior Baiano, em chute de dentro da pequena área, após falha do goleiro rubro-negro, Clêmer.

No segundo tempo, o pequeno público que foi ao Maracanã – o estádio está em reformas para o Mundial de Clubes e só foram colocados 20 mil ingressos – garantiu o seu ingresso. Em apenas seis minutos, o torcedor viu quatro gols.

Aos 22 minutos, o atacante colombiano Asprilla deixou o Verdão na frente, em mais uma falha do goleiro Clêmer, e de toda a defesa do Fla. Mas, aos 25 minutos, foi a vez de Caio marcar. O atacante empatou a partida para o Flamengo, em uma cabeçada que completou cruzamento de Leandro Machado. Dois a dois.

No entanto, em outra falha da defesa rubro-negra, o Diabo Loiro, Paulo Nunes, apareceu sozinho dentro da área do Fla, e desempatou, aos 27 minutos, deixando o Palmeiras na frente. Um minuto depois, o inspirado Caio marcou novamente para o Fla, após tabela na entrada da área, deixando tudo igual: 3 a 3.

Mas a emoção maior da partida aconteceu com Reinaldo aos 44 minutos. Após o próprio atacante perder um gol feito, dentro da pequena área, ele escorou de cabeça cruzamento de Athirson, e viu a bola morrer mansa no fundo das redes do Palmeiras. Era a decisiva virada rubro-negra. Quatro a três, em um jogo emocionante, que terminou premiando os torcedores e jogadores do Fla, que viriam a conquistar o título na semana seguinte.

Ficha Técnica

FLAMENGO 4×3 PALMEIRAS
1º Jogo da Final da Copa Mercosul 1999

Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Data: 16/12/1999

Gols: Juan (FLA) 5’/1ºT, Júnior Baiano (PAL) 44’/1ºT, Asprilla (PAL)22’/2ºT, Caio (FLA) 25′ e 28’/2ºT, Paulo Nunes (PAL) 27’/2ºT e Reinaldo (FLA) 44/2ºT

FLAMENGO: Clêmer, Maurinho, Célio Silva, Juan e Athirson; Leandro Ávila, Marcelo Rosa (Rodrigo Mendes), Leonardo Inácio e Iranildo (Caio); Leandro Machado e Reinaldo. Técnico: Carlinhos.

2° Jogo da Final

Após a emocionante vitória de virada pelo placar de 4×3 no Maracanã, o Flamengo foi embalado para São Paulo enfrentar o Palmeiras, mesmo sabendo que uma derrota por 1×0 tiraria o título da Gávea. Carlinhos armou uma equipe sem medo, e que, mesmo sem Romário, assim como no primeiro jogo da final, soube se portar muito bem. E, como manda o figurino, ganhou mais um título na raça e na emoção.

Empurrado por 32 mil torcedores e pela promessa de um prêmio de US$ 1 milhão de bicho, o Palmeiras começou pressionando a equipe flamenguista, mas de forma desordenada. Paulo Nunes, Asprilla, Euller e Alex tentavam resolver tudo sozinhos, abusando dos lances individuais. A torcida começou a apoiar e, a partir de então, o time começou a atuar de forma mais coletiva. Aos 20 minutos, o zagueiro do Fla Célio Silva tentou dar um bico pra frente e pegou mal na bola. Paulo Nunes recuperou e tocou para Zinho, que deixou o lateral Júnior livre dentro da área. Ele foi derrubado por Leandro Machado. Pênalti, que Arce converteu colocando o Verdão com vantagem no placar.

Logo em seguida, o Fla ameaçou em contra-ataque rápido pelo lado direito. Em tabela de Caio com Rodrigo Mendes, saiu um bom cruzamento para Reinaldo, mas a zaga palmeirense fez o corte. O jogo ficou equilibrado até o fim da primeira etapa, quando o Palmeiras vencia por 1×0 e tinha o título nas mãos.

Na volta do intervalo, em um contra-ataque o Flamengo marcou o gol de empate, com Caio, na sobra de um lance confuso na área alviverde, na saída do goleiro Marcos do gol.

Para não fugir à regra, o jogo continua eletrizante. Aos 11 minutos, Rodrigo Mendes acerta um chutaço de fora de área, após pegar sobra da zaga palmeirense, e vira o jogo: 2 a 1 Mengo. A torcida rubro-negra ainda comemorava quando Arce, de falta, empatou novamente a partida, em falha do goleiro Clemer. Aos 22, o meia palmeirense Zinho fez boa jogada pela ponta e cruzou na cabeça de Paulo Nunes, que virou novamente o jogo. Mas de nada adiantou para os alviverdes.

Assim como no Maracanã, o Flamengo viria a garantir o resultado favorável no finalzinho da partida. Logo após o gol de Paulo Nunes, o atacante Leandro Machado quase empatou para o Fla, de cabeça. Era um aviso de que o gol do empate e do título estava por vir. Depois, foi a vez de Iranildo, após boa jogada individual, quase marcar. Estava pintando o gol rubro-negr. E ele veio. Desta vez, foi aos 38 minutos da segunda etapa. Em outro contra-ataque bem armado, Lê fez grande jogada individual, tabelou com Reinaldo, saiu de frente para o gol do goleiro Marcos, e com um toque de categoria, balançou as redes e saiu para a comemoração, em prantos. Era o gol do título flamenguista.

A vitória heróica do Rubro-Negro fez a alegria dos torcedores que compareceram ao Palestra Itália e também da Nação ao redor do Brasil. No Rio de Janeiro, a festa foi muito grande. Era o Flamengo voltando a conquistar um importante torneio internacional.

Ficha Técnica

PALMEIRAS 3×3 FLAMENGO
2º Jogo da Final da Copa Mercosul 1999

Local: Parque Antárctica, São Paulo (SP)
Data: 20/12/99

Gols: Arce (PAL) 20’/1ºT, Caio (FLA) 5’/2ºT, Rodrigo Mendes (FLA)11’/2ºT, Arce (PAL) 20’/2ºT, Paulo Nunes (PAL) 22’/2ºT e Lê (FLA) 38’/2ºT

FLAMENGO: Clêmer, Maurinho, Célio Silva, Juan e Athirson; Leandro Ávila, Marcelo Rosa (Lê), Leonardo Inácio (Rodrigo Mendes) e Caio (Iranildo); Leandro Machado e Reinaldo. Técnico: Carlinhos.

Especial Geraldo

Especial Geraldo

Geraldo

A esmagadora maioria dos mais de 40 milhões de torcedores do Flamengo não sabe quem foi Geraldo Cleofas Dias Alves. Se pelo nome completo fica mais difícil, dizendo apenas Geraldo não facilita muito. Tanto que não há muitos registros sobre ele na Internet. Mas a história poderia ser bem diferente se Geraldo não tivesse morrido de parada cardíaca durante uma cirurgia de extração de amídalas no dia 26 de agosto de 1976, quando tinha apenas 22 anos.Geraldo era um jogador driblador, que tinha um futebol que podemos chamar de moleque e um controle de bola como jamais vi em outro. De tão alegre, sempre assoviando pelos cantos, ganhou o apelido de assoviador.

Chegou ao Flamengo vindo da cidade de Barão dos Cocais, interior de Minas Gerais, e conheceu Zico na categoria juvenil. Não demorou muito para que os dois se tornassem grandes amigos e companheiros nas baladas, nos tempos em que o Galinho era solteiro. Dentro de campo, o entendimento dos dois também era total. As tabelas saiam com facilidade e os gols eram conseqüência desse entrosamento.No início da década de 70 já se dizia que, nas divisões de base do Flamengo havia dois grandes talentos promissores: Zico e Geraldo. Mas, enquanto o Galinho seguiu por uma estrada, Geraldo descuidou da saúde e se perdeu por algumas curvas no caminho. Em 1972, Zico era titular na conquista do Estadual, mas seu companheiro por seu comportamento descomprometido não vingava.Em 1973 a situação melhorou. Geraldo passou a entrar no time em alguns jogos e participou de 18 partidas na temporada. Talento havia de sobra, mas ainda faltava regularidade. Em 1974 ele já jogava como titular disputou ao todo 59 jogos com o Manto Rubro-Negro. O ano começou bem para ele, que marcou seu primeiro gol como profissional logo no dia 30 de janeiro, num jogo em que o Flamengo venceu o Vila Nova, de Goiás (4 x 0). O primeiro no Maracanã ocorreu no amistoso em que o Flamengo GOLEOU O Corinthians por 5 a 1. Mas Geraldo faria apenas outros dois gols naquele ano em que conquistaria dessa vez jogando seu segundo e último título Estadual pelo Rubro-Negro.A capacidade técnica de Geraldo já era reconhecida além das fronteiras da Gávea e, em 1975, ele acabou sendo convocado pelo técnico Oswaldo Brandão para integrar a Seleção Brasileira que disputou a Copa América. Atuou como titular nos dois jogos contra o Peru. Pelo Flamengo, jogou 62 vezes e marcou 7 gols naquele ano.

Clique aqui e veja o vídeo – Canal 100 – Geraldo Assoviador

Geraldo

Infelizmente o ano de 1976, quando ele começa a se firmar definitivamente com a camisa do Flamengo e volta a defender a Seleção, torna-se mais curto e fatídico. No início do ano ele é chamado a vestir a amarelinha. Geraldo disputa um jogo contra um combinado do Distrito Federal em fevereiro (1 x 0) e logo depois enfrenta a Argentina (2 x 1) pela Copa Roca e Taça do Atlântico. Voltou a defender a Seleção em maio, ainda por essas duas competições, e o Brasil venceu os argentinos (2 x 0) no Maracanã. Jogou ainda um amistoso contra o Universidad do México e, no dia 9 de junho, teve a oportunidade de atuar no Maracanã ao lado de Zico, sair de campo vitorioso contra o Paraguai (3 x 1) e comemorar o título de campeão. Foi o sétimo e último jogo com a camisa do Brasil.

Geraldo

Geraldo participou de 30 jogos pelo Flamengo em 1976 e marcou três gols. O último foi anotado no dia 14 de agosto, o terceiro na vitória do Flamengo sobre o Olaria, por 3 a 1, no Maracanã, pelo Segundo Turno do Estadual. Luisinho e Toninho fizeram os outros gols.Sete dias depois de balançar a rede contra o Olaria, Geraldo morreu na mesa de cirurgia após choque anafilático que provocou uma parada cardíaca. O time do Flamengo estava todo numa excursão em Fortaleza. No dia anterior havia vencido o Ceará por 2 a 0. Geraldo ficou no Rio exatamente para operar as amídalas. Ao receber a notícia, a delegação do Flamengo caiu em desespero chocada, alguns jogadores passaram mal e a equipe retornou imediatamente ao Rio.

Curiosidades

* Geraldo disputou ao todo 169 jogos como profissional do Flamengo. Na Seleção, atuou sete vezes.

* Tamanha era a capacidade técnica de Geraldo que alguns cronistas da época chegaram a comparar sua habilidade com a bola a de Pelé.

* A amizade de Geraldo com Zico era tão forte que, além de freqüentar constantemente a casa da família Antunes, em Quintino, ele era considerado um filho postiço de Seu Antunes e Dona Matilde. “É meu filho marronzinho”, costumava dizer o patriarca da família.

*Não era para Geraldo ter feito a cirurgia no dia 26 de agosto. Na verdade, o jogador, que tinha muito medo de ser operado, deveria ter retirado as amídalas no mesmo dia em que Zico corrigiu um desvio de septo. Mas Geraldo não apareceu no dia e apenas Zico fez a cirurgia na data prevista.

* Zico participou de dois amistosos em memória a Geraldo. O primeiro, no dia 6 de outubro (Flamengo 2 x 0 Seleção Brasileira), serviu para arrecadar fundos para a família do jogador, que vivia em Barão de Cocais. A segunda, em 1995, foi entre os másteres do Flamengo e de Minas Gerais, em Barão de Cocais (o Flamengo perdeu por 2 x 1 e Zico fez o gol), para possibilitar a construção do mausoléu para Geraldo.

Nome Completo: Geraldo Cleofas Dias Alves

Camisa: 8

Origem: Barão de Cocais (MG)

Nascimento: 16/04/1954

Principais Equipes: Flamengo (1972 a 1976), Seleção Brasileira (1975 e 1976).

Principais Títulos: Campeão Estadual (Flamengo-1972 e 1974); Copa Roca e Taça do Atlântico (Seleção Brasileira-1976).

Outros Prêmios: Campeão Taça Guanabara (Flamengo-1972) e do Terceiro Turno do Estadual (Flamengo-1974).

Zico

Zico

Zico“É muito pequeno, não dá”. Esta foi a frase que Arthur Antunes Coimbra ou Zico ouviu logo no inicio de sua carreira, dita pelo técnico Modesto Bria, treinador das divisões de base. Levado ao Clube pelo radialista Celso Garcia, que seguiu com perseverança, para acabar com a teimosia do técnico. E agradecemos à ele, pois em pouco tempo o franzino Zico já mostrava seu belo futebol, nas divisões do de base do Flamengo.

Maior artilheiro do Flamengo, segundo maior da Seleção Brasileira (atrás apenas de Pelé), líder do time rubro-negro em suas maiores conquistas, Zico sempre teve que suar muito para conseguir o que queria. Cedeu praticamente a sua infância em busca de um sonho, de ser jogador de futebol e de jogar pelo Flamengo. Depois de muito suor e luta, conseguiu alcançar seu objetivo! Tornou-se jogador, titular, e caiu nas graças da galera Rubro-Negra.

Mais tarde, conquistando três campeonatos brasileiros, um tricampeonato carioca, uma Taça Libertadores e um Mundial Interclubes em 1981, em Tóquio, Zico conseguiu calar os críticos e e se firmar de vez como ídolo da nação. Tornando-se a principal figura e o maior ídolo da história do Flamengo! Flamengo este que deve muito à Zico, pela sua dedicação, pelo seu amor, pela sua vontade e luta pelos seus ideais. Zico preencheu a galeria de títulos do Flamengo com os mais importantes troféus que qualquer equipe do mundo pode almejar. Mas uma proposta fez com que ele se transferisse para a Udinese, mas foi por pouco tempo.

Confira aqui o Álbum de fotos do maior ídolo do Flamengo, Zico.

A falta de ambição da Udinese acabou motivando Zico a voltar ao Flamengo. O retorno, em 1985, muito festejado pela torcida, mas, no mesmo ano, sua carreira sofreu o mais duro golpe: em uma partida contra o Bangu, Márcio Nunes fez uma falta criminosa, entrando com os dois pés no joelho esquerdo de Zico. A jogada rompeu os ligamentos cruzados do joelho do craque, que teve que se submeter a diversas operações e, segundo ele, “aprender a andar de novo”. Mais uma vez tendo que provar a sua paixão pelo futebol, e sua gana de vencer; e também demonstrou não guardar mágoas, perdoando o zagueiro Márcio algum tempo depois.

No ano seguinte, 1987, Zico encabeçou um Flamengo sensacional, que incluía jogadores experientes, como Edinho, Leandro, Andrade e Renato Gaúcho, e jovens como Leonardo, Bebeto, Zinho, Aldair e outros. O resultado foi a conquista da Copa União, o equivalente ao Campeonato Brasileiro daquele ano, o quarto da vida de Zico.

Dois anos depois, em 1989, Zico se despediu do Flamengo pela segunda vez, rumo ao Japão, onde encerrou a sua carreira como jogador profissional.

Na Seleção Brasileira

ZicoNa Seleção Brasileira, mais um desafio: ser titular. Teve que superar a desconfiança de treinadores,torcedores e imprensa e provar, com gols e belas jogadas, que tinha valor para vestir a camisa que um dia fora de Pelé: a número 10. Esta empreitada foi coroada com a convocação de Zico para a Copa do Mundo de 1982 como cérebro de um time que tinha os geniais Falcão, Sócrates, Leandro e Júnior e é até hoje considerado o melhor do Brasil desde a Copa de 70. Maior do que qualquer dificuldade era a vontade de Zico de parar quando quisesse, e não por imposição de quem quer que fosse. Com esta idéia fixa, Zico dedicou-se como nunca a seus exercícios de fisioterapia, lutando muito, para poder assim melhorar. Eram pequenos porém regulares progressos a cada fase. Mas em momento algum abaixou a cabeça e deixou de lutar pelo o que queria, sempre alcançando seus objetivos, pois mais difícil que fosse.

Confira aqui o Álbum de fotos do Jogo que deu o Título Mundial de 1981 pro Mengão. Flamengo x Liverpool

Zico conseguiu voltar a tempo de disputar a Copa do Mundo de 1986, no México, sob a batuta de Telê Santana, o mesmo da Seleção Brasileira de 1982. Zico não jogou muito, ainda por causa da contusão em 1985, e sua participação ficou marcada pelo pênalti perdido contra a França, no jogo em que o Brasil foi eliminado. Pênalti esse que foi um dos raros momentos de infelicidade da relação Zico X futebol, servindo como uníco álibe de quem coloca a carreira gloriosa de Zico em questão. Mas quantos jogadores já não erraram pênaltis, ou cometeram erros marcantes em horas de decisão? Isto aconteceu, e serviu de experiência para o Galinho, que deu a volta por cima e hoje é sempre lembrado por suas atuações e seu amor pelo futebol.

Recentemente, em março de 1998, foi convidado pela CBF para ser o coordenador-técnico da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1998, na França. Disse que aceitou o convite “para servir ao país”. Na bagagem, ele leva para o convívio com os jogadores que vão disputar a Copa da França a experiência de três Mundiais (78, 82, 86), dez anos de seleção brasileira (1976-1986), e 96 gols com a camisa “canarinho”, o segundo maior artilheiro, atrás apenas de Pelé, com a média de 0,76 gols por jogo. Quis o destino que Zico, o maior atacante brasileiro depois do Rei Pelé, não fosse campeão mundial pela seleção brasileira. Foi campeão interclubes, no show de bola diante do Liverpool, em 1981, e com a camisa do Flamengo ganhou tudo o que disputou. Mas esse estigma não o perturba. “Outros grandes craques brasileiros também não tiveram a felicidade de ser campeões mundiais”, diz ele. “Meu compromisso com a CBF, acertado pessoalmente com o presidente Ricardo Teixeira, terminará na Copa da França. Depois do penta, se Deus quiser, estarei de volta ao Kashima e ao CFZ do Rio”. O Galinho estreou com pé-quente, na vitória de 2 a 1 sobre a Alemanha, em Stuttgart. Mas infelizmente o Brasil não levou o Penta, e agora Zico está de volta as suas atividades normais. Mas mesmo assim valeu, Zicão!

Fonte: Flapédia

Presidente

Presidente Kléber Leite

O pior presidente da história do clube. Levou o Flamengo ao fundo do poço, financeira e moralmente, pois fez inúmeras contratações (ao todo vendeu e comprou mais de 100 jogadores). Sua administração infelizmente foi em um momento histórico para o clube, o ano do centenário (1995). Começou de forma impressionante, trazendo Romário da Espanha e vários outros jogadores que a imprensa considerava craques, mas que ao vestirem o manto sagrado, tremeram e levaram o clube aos maiores vexames de sua história. O clube quebra vários recordes negativos, tais como 4 vice-campeonatos “algo que era exclusivo do “clube da colônia portuguesa”.(Carioca e Super Copa da Libertadores em 95, Rio-São Paulo e Copa do Brasil de 1997), com um agravante: todos dentro do Maracanã lotado, causando enorme decepção para a torcida e muitas humilhações por parte da torcida arco-íris.

O Flamengo também correu risco de rebaixamento no brasileiro de 1995, que só não ocorreu, pois na época só eram rebaixados dois clubes e um deles, desde o começo do campeonato, já deixava claro que seria rebaixado: o União São João (SP). Também teve derrotas por WO nos campeonatos carioca de 97 e 98, fazendo lembrar os idos tempos do amadorismo. Vale lembrar também que em sua administração o Fluminense foi campeão carioca em 1995, após 10 anos de fila; o Botafogo foi campeão brasileiro também em 1995 (título inédito) e campeão carioca em 1997. O Vasco ganhou o carioca e a Libertadores em 1998 e o brasileiro em 1997. São fatos que deixaram profundas marcas negativas na história, levando o nome do clube ao descrédito e uma crise financeira que perdura até aos dias de hoje (2005).

Mandatos : 1995 – 1996 – 1997 – 1998